Maria chegou na pista da área externa do Shopping Bela Vista, em Salvador, por volta das 13h da terça-feira (17). O objetivo da tarde era apenas um: ser aprovada na prova prática para conseguir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas a narrativa não aconteceu como o previsto. “Quando o instrutor chamou a primeira pessoa, eu já tinha avistado que ele estava arranjando problema”, disse.
Ela foi a segunda a ser chamada da autoescola. “Dei ‘boa tarde’ e ele não me respondeu. Eu já estava chateada pela falta de educação”. Entrou no carro e começou a fazer a baliza. Ao terminar, achou que estava tudo certo, mas recebeu a reprovação. “Perguntei; o carro bateu? E ele negou”. O examinador disse que o veículo estava no meio-fio. “Quando fui ver, o carro não estava na borda. Ele virou as costas e me mandou remarcar a prova’, conta
A narrativa faz parte de uma série de denúncias contra um instrutor, identificado com sargento Gilson. Ele estaria reprovando candidatos com justificativas falsas no mutirão do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). A ação acontece em Salvador e no interior da Bahia durante dezembro – os alunos dizem que o problema aconteceu numa terça como parte do mutirão, mas o Detran informou que as provas do mutirão são realizadas apenas aos sábados.
“Comecei a chorar, me senti injustiçada. Depois vi outra menina e ela também perdeu. Saiu chorando no telefone. O instrutor disse que ela tinha morrido duas vezes, mas isso não aconteceu”, relembra. O registro é de que, pelo menos, seis candidatos tenham passado por situações similares no mesmo dia.
Em nota, o Detran informou que está à disposição para apurar qualquer denúncia recebida e mantém os critérios técnicos para avaliação dos candidatos como de responsabilidade dos avaliadores. Eles que irão garantir que sejam aprovados candidatos aptos para que possam conduzir veículos.
Outras denúncias dão conta de que ele reprovou alunos pelos seguintes motivos: estacionar de forma incorreta e deixar o carro estancar. Os candidatos, no entanto, negam as acusações.
Pelo menos dois funcionários do Detran confirmaram as suspeitas. No local, um instrutor também reclamou das reprovações do colega – quando foi procurado pelos alunos para ter mais detalhes do suspeito. As denúncias também foram registradas na ouvidoria do órgão. No CAB, durante o registro, um funcionário informou que o homem acumula uma série de reclamações.
O Detran também foi questionado se identificou o instrutor citado e se ele acumula reclamações como foi apontado pelos candidatos. O órgão informou apenas que não tem nenhum registro de notificação sobre o caso. No entanto, pelo menos uma das reclamações registrados na ouvidoria do Detran foi apresentada à reportagem.
Já a Auto Escola Trânsito Livre disse que lamenta profundamente cada reprovação ocorrida durante os exames práticos de direção e orienta, aos alunos que se sentiram prejudicados durante o exame, entrar em contato diretamente com o Detran.
Vale ressaltar que as avaliações são realizadas exclusivamente por examinadores do Departamento de Trânsito, sem qualquer interferência da autoescola. Os critérios de avaliação seguem as normas estabelecidas pelo órgão.
Nome fictício para proteção da denunciante
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