A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu preventivamente na terça-feira, 29, o médico André Lorscheitter Baptista, de 48 anos, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, no Estado gaúcho, por suspeita de crime de feminicídio.
Segundo Rafael Pereira, diretor da Divisão de Investigações de Homicídios da região metropolitana, Baptista é acusado de matar a esposa com uso de medicações controladas. O Estadão não conseguiu contato com a defesa de Baptista.
De acordo com a investigação, o suspeito usou seus conhecimentos como médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para fazer uso da medicação chamada Zolpidem e dopar a esposa. “Colocou o medicamento dentro do sorvete da esposa. A partir disso, ela ingressa num sono profundo, pelo excesso de Zolpidem, porque, pelo que se apura, teriam sido quatro comprimidos postos dentro do sorvete”, disse ele.
Com a mulher em sono profundo, ele aproveitou o momento para fazer um acesso venoso nos pés dela. “Justamente para não chamar atenção, porque se fizesse nos braços, ficaria visível, quando ele tentasse forjar a morte natural. Ele administrou duas medicações que não podem ser compradas, são de uso do serviço de emergência, uma delas foi o Midazolam, provocando a morte da vítima.”
O delegado ainda aponta que Baptista teria avisado aos familiares de Patrícia sobre a morte. Ele conseguiu um atestado, junto a outro médico, como se ela tivesse morrido de causa natural decorrente de um enfarte agudo do miocárdio.
No entanto, por suspeitar da situação em razão da vítima ser uma pessoa saudável e de já ter tido desavenças com o marido, a família solicitou a autópsia, que apontou o envenenamento.
Em um dos relatos dos familiares, consta que o marido tentou realizar um aborto na Patrícia quando ela estava grávida, ministrando medicações. A criança nasceu e hoje tem dois anos.
“A gente não consegue confirmar isso com a Patrícia, que poderia dizer que ele teria tentado um aborto contra a vontade dela, se ela queria abortar, porque, infelizmente, ela faleceu. Mas, vamos dar uma credibilidade para o relato da família, até porque a família foi a primeira a ligar o alerta”, disse Pereira.
Segundo Pereira, no local do crime, também foram encontradas diversas provas. “A mulher havia sido movimentada de lugar. Ele alega que ela morreu comendo um sorvete e dormindo no sofá, e ela estava na cama, num colchão. Posteriormente, esse sorvete foi apreendido com prova que tinha a medicação controlada dentro “
Além disso, os policiais conseguiram imagens que mostram que Baptista levando uma mochila para o carro e depois saindo com o veículo, logo após a morte da mulher. “Começou a ligar aquele alerta: você está com o seu ente querido, com a mulher que você ama, morta, e sai de carro, esconde uma mochila?”, destacou o delegado.
Durante as buscas, os policiais encontraram a mochila, com os medicamentos, dentro do carro do suspeito. O veículo estava estacionado na garagem do prédio em que viviam. “Na verdade, parece óbvio que ele não esperava a chegada dos policiais. Ele já tinha deixado a mochila no carro para se desfazer dela.”
Em depoimento, o delegado aponta que Baptista usou argumentos que não convenceram os policiais. “No sentido de que ele tinha essas substâncias, que estavam vazias, para ensinar outros médicos. Aí, a gente questiona se ele dá aula, e ele diz que não dá aula. São respostas vazias. Na mochila, também tinha uma gaze com o sangue de Patrícia, que foi usada durante o procedimento de acesso venoso”, afirmou Pereira.
O laudo do Instituto-Geral de Perícias mostrou que havia traços de medicamentos controlados no corpo da vítima. Ainda de acordo com Pereira, o casal tinha uma filho. O menor está sob os cuidados de familiares.
As investigações seguirão em andamento para apuração de outras circunstâncias, até mesmo esclarecer o motivo do crime.
“Ele não disse qual foi a motivação, se foi financeira, se foi afetiva, se ele queria se separar, não fala a motivação. Vamos tentar verificar também em que condições ele conseguiu desviar essas medicações do Samu”, finalizou o diretor da Divisão de Investigações de Homicídios da região metropolitana.
Fonte: Correio