Provedores de internet no Ceará estão sendo forçados a suspender atividades em diversas regiões devido a uma série de ataques realizados por uma facção. Os criminosos vêm promovendo o corte de cabos, incêndio de veículos e disparos contra as sedes das empresas, afetando a prestação de serviços e deixando milhares de pessoas sem conexão.
As ações violentas já foram registradas em Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Caridade, causando um prejuízo estimado em mais de R$ 1 milhão. Além do impacto financeiro, as empresas e seus funcionários relatam um cenário de medo e insegurança diante das ameaças e da violência imposta pelos criminosos.
Motivação dos ataques e impacto no setor
Os ataques estão relacionados a uma tentativa de extorsão promovida por uma Facção Criminosa CV, que exigem parte do faturamento das provedoras como condição para permitir a operação dos serviços. Segundo apurações, as empresas são obrigadas a pagar uma taxa que pode chegar a 50% do valor cobrado dos clientes. Quem se recusa a pagar sofre represálias, incluindo depredação de patrimônio, roubo de equipamentos e violência contra funcionários.
Um técnico que preferiu não se identificar relatou que trabalhadores do setor são abordados nas ruas e coagidos a interromper os serviços caso a empresa para a qual trabalham não aceite pagar a taxa exigida pelos criminosos. “Eles abordam os técnicos que estão na rua fazendo reparos e dizem que só podem atender empresas que estão fazendo pagamentos mensais para a facção. Se negar, a empresa sofre represálias: tem carros queimados, os técnicos são roubados e as lojas são depredadas”, afirmou.
Diante da escalada da violência, algumas empresas decidiram suspender serviços. A Acnet, provedora de internet em Caucaia, interrompeu temporariamente visitas técnicas após criminosos dispararem contra sua sede no bairro Itambé. Já em Caridade, todas as prestadoras decidiram interromper as atividades e cortaram a internet de todo o município na madrugada da última terça-feira (11) como forma de protesto contra os ataques.
Escalada da violência e ações criminosas
Os ataques contra os provedores de internet se intensificaram desde fevereiro e seguem em escalada. Veja a cronologia dos principais atos criminosos registrados:
11 de março: Criminosos jogaram pedras contra um veículo da empresa Brisanet no bairro Capuan, em Caucaia.
10 de março: A fachada da Acnet, em Caucaia, foi alvejada por tiros.
10 de março: Bandidos destruíram cabos de internet de uma operadora no município.
9 de março: Após o governador do Ceará anunciar medidas contra a criminalidade, uma empresa foi atacada na madrugada no bairro Sítios Novos, em Caucaia.
7 de março: Criminosos destruíram cabos de internet em Caridade, deixando 90% da população sem conexão.
6 de março: Um carro de serviço da Brisanet foi incendiado no Conjunto Metropolitano, em Caucaia.
22 de fevereiro: Dois veículos da Brisanet foram incendiados no bairro Jacarecanga, em Fortaleza.
Os ataques não se restringem apenas a depredação de equipamentos e veículos. Há relatos de que criminosos também estão ameaçando diretamente os responsáveis pelas empresas para forçá-los a ceder às exigências da facção.
Respostas das autoridades
Diante da gravidade da situação, o governo do Ceará anunciou a criação de um grupo especial para investigar e combater os ataques. Além disso, uma operação policial realizada nesta quarta-feira (12) resultou na prisão de 12 suspeitos envolvidos nos crimes. A Secretaria da Segurança Pública também está investigando a possível ligação de 14 empresas clandestinas de internet com facções criminosas.
O delegado Alisson Gomes, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas, explicou que os criminosos tentam dominar o setor através da intimidação. “Eles tentam, mediante extorsão, obter parte da mensalidade da internet de cada provedor. Aqueles que não obedecem sofrem represálias, como depredação de patrimônio e ataques contra funcionários”, afirmou.
Mesmo com as ações da polícia, as empresas do setor continuam preocupadas com a insegurança. Sem garantias de proteção, muitas prestadoras já avaliam a possibilidade de reduzir ou até encerrar suas atividades em determinadas áreas, o que pode prejudicar ainda mais o acesso à internet da população.
A situação ainda é crítica, e o impacto das ações criminosas no setor de telecomunicações pode gerar efeitos prolongados para empresas e consumidores em todo o estado.
Redação FR /com informações G1 CE