O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quarta-feira que aposentados e pensionistas foram “vítimas fáceis” de criminosos que se apropriaram de parte de benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A declaração foi feita em entrevista para comentar a operação “Sem Desconto”, deflagrada mais cedo pela Polícia Federal.
— Foi uma fraude contra os aposentados, pessoas que estão em fase adiantada da vida, naturalmente debilitadas. Foram vítimas fáceis desses criminosos que se apropriaram das pensões e aposentadorias. Essa é uma operação especial que se insere naquele conjunto de apurações que o ministério tem desenvolvido contra o crime organizado — disse. — Essa é uma operação especial que se insere naquele conjunto de apurações que o ministério tem desenvolvido contra o crime organizado
A PF e a CGU fizeram, nesta quarta-feira, uma operação para combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados feitos por sindicatos em aposentadorias e pensões. As entidades cobraram de aposentados e pensionistas R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF e a CGU. O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo por decisão judicial. Ele foi alvo de buscas no gabinete e em sua residência.
Lewandowski afirmou que foram abertos 12 inquéritos judiciais, três prisões temporárias foram cumpridas e três pessoas estão foragidas.
— Nós deflagramos uma operação importante e muito abrangente visando proteger os aposentados que estavam tendo descontadas ilegalmente suas aposentadorias e pensões de entidades que se intitulavam protetoras desses aposentados — disse.
Lewandowski disse que o presidente Lula foi avisado da operação logo cedo. Além disso, houve uma reunião de avaliação sobre o cenário da qual também participam o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, e o Diretor Geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
Corrupção
Carvalho afirmou que essa foi uma operação de combate à corrupção, combate a uma fraude, e de defesa de aposentados e pensionistas.
— Temos 6 milhões de pessoas que são descontadas mensalmente em algum valor do seu salário de aposentadoria, da sua aposentadoria, por conta de descontos associativos, é muito importante que todas essas pessoas que tenham esses descontos, saibam exatamente por que estão sendo descontadas, tenham declarado e manifestado a aceitação desses descontos — disse.
Carvalho afirmou que, a partir de 2023, várias pessoas não tinham autorizado esses descontos:
— Quando assumimos o governo e identificamos um aumento desses descontos ao longo dos anos e um aumento do número de reclamações dos descontos, começamos essa apuração.
O ministro ressaltou que as entidades não tinham estrutura operacional para prestar os serviços que ofereciam, tais como desconto em academia, convênio de plano de saúde, auxílio de prestação de assistência jurídica.
— O que se apurou é que essas entidades não tinham estrutura operacional para oferecer os serviços.
Segundo o governo, todos os descontos serão suspensos.
— Nove entidades tiveram desconto suspenso. A CGU vai ajudar para garantir que seja feito a suspensão dos acordos de cooperação técnica para dar um freio de arrumação e organizar esse sistema.
Sem autorização
De acordo com o ministro Vinícius Marques de Carvalho a maioria das pessoas que tinham recursos descontados não havia autorizado os abatimentos.
— Infelizmente várias dessas pessoas não tinham autorizado esses descontos, eles eram em sua grande maioria fraudados, com falsificação de assinaturas e artifícios para simular a manifestação de vontade dessas pessoas. Esse compromisso com o combate à corrupção é compromisso do governo do presidente Lula, é uma demonstração cabal disso. Essa operação é demonstração cabal da capacidade dos órgãos de estado de se articular e implementar uma operação complexa como essa. Estamos hoje em fase inicial que se torna pública, por conta da operação, mas é uma investigação que está no começo e vai ter desdobramento certamente. Estamos aqui hoje para apresentar como isso aconteceu.
Estão sendo cumpridos 211 mandados judiciais de busca e apreensão, ordens de sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão e seis mandados de prisão temporária no Distrito Federal e nos estados de Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe. A operação é intitulada “Sem desconto”.
“As investigações identificaram a existência de irregularidades relacionadas aos descontos de mensalidades associativas aplicados sobre os benefícios previdenciários, principalmente aposentadorias e pensões, concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)”, informaram a PF e a CGU.
Operação Sem Desconto
Operação Sem Desconto afastou o presidente do INSS. PF e CGU apuram esquema nacional de descontos indevidos em aposentadorias e pensões
Seis servidores públicos foram afastados de suas funções. Também houve busca e apreensão na Diretoria de Benefícios do INSS. Os investigados poderão responder pelos crimes de corrupção ativa, passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, organização criminosa e lavagem de capitais.
Conforme O GLOBO mostrou no último dia 14, a arrecadação dos sindicatos no governo do presidente Lula por meio de mensalidades descontadas diretamente dos benefícios previdenciários cresceu de forma significativa nos últimos dois anos. Se em 2022 esse tipo de desconto realizado nas aposentadorias e pensões chegou a R$ 30,7 milhões, no ano passado o número quase triplicou, alcançando R$ 88,6 milhões arrecadados por 37 entidades.
O desconto sindical no INSS é uma mensalidade associativa que pode ser cobrada de aposentados e pensionistas. O desconto necessita de prévia autorização expressa do titular do benefício previdenciário.
No ano passado, no entanto, ganharam destaque as queixas de beneficiários que descobriram descontos em suas folhas de pagamento sem jamais terem se associado às entidades. Há centenas de processos judiciais contra entidades autorizadas a fazer os descontos. Todas precisam seguir uma série de requisitos e assinar um Acordos de Cooperação Técnica (ACT) para fazer as deduções.
Extra o Globo